sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

MARCIO


Marcio foi um grande amigo.

Quando moços, andávamos juntos pela boemia.

Violonista dos melhores que conheci, que,com ouvido absoluto, acompanhava de prima, qualquer coisa que se cantasse pra ele.

O tempo passou e Marcio se entregou às drogas.

Tanto cheirou, tanto fumou e tanto ingeriu LSD que acabou meio maluco.

Quase nada restou do Marcio de antigamente.

Vez em quando Marcio aparecia. Sorria seu sorriso banguela,- pois perdera vários dentes da frente em virtude de brigas e outras aventuras infernais - e se sentava comigo no alpendre da minha casa.

Márcio contava casos e mais casos havidos com gente que já morreu.

Uma conversa interessante, vinda de uma pessoa humana formada e com pós graduação em história.

Ao final Marcio me pedia para tocar “Eu sei que vou te amar”.

Todas as vezes que me visitava, pedia a mesma canção.

Pacientemente nós nos dirigíamos para o piano e ele ficava parado ouvindo.

Marcio não ouvia, bebia a música.

Assim que eu terminava Marcio se virava rumo ao portão e caladinho procurava o rumo de casa.

Não agradecia nem nada. Não dizia nem uma palavra.

Um dia, ao final da conversa, Marcio me pediu pra tocar “Eu sei que vou te amar”.

Eu, curiosamente, perguntei o porquê da mesma canção todas as vezes.

Marcio apenas balbuciou...não sei. E chorou.

Levantou-se e caminhou caladinho para o rumo do portão. E se foi.

Nunca mais Marcio apareceu.

Até hoje eu não sei o porquê de tamanho interesse do Marcio por essa música.

Acredito que resquícios de um amor antigo, o mantenha vivo.

Nenhum comentário: