sábado, 7 de abril de 2007

O lesado consumidor brasileiro






São apenas duas as divisões de qualidade dos produtos comercializados no mercado interno brasileiro. A primeira é a daqueles considerados bons, que eu, particularmente, classifico de questionavelmente bons. O segundo são os ruins, ou questionavelmente ruins, porque na amargura que eu ando com o total desrespeito a todos os consumidores nacionais, eles são péssimos, e com pouco tempo de uso: inúteis.
Para os primeiros todas as providências cabíveis. Executivos de altíssimo nível, análises mercadológicas constantes; monitoramento diário da conduta concorrente real, concreta e relativa; pesquisas de influencia da marca na complexidade psicológica individual; fluxograma minutado do tempo de uso do produto com suas devidas variantes sazonais; suporte do mercado ao aumento de produtividade ou análise detalhada do comportamento positivo ou negativo dos diferenciais, do approach e do recall e blá e blá e blá.
O aparato é tamanho que, muitas vezes, dá pra perceber claramente que a única coisa que ele faz é encobrir ou deixar na sombra o que não deve ser visto: o próprio produto.
Quanto aos questionavelmente ruins a coisa muda completamente de figura. A impressão que dá é que as industrias que os fabricam se utilizam de processos industriais de destruição antes de os colocarem no mercado. Chego a imaginar um fabricante de jeans, possesso sapateando sobre uma calça e explodindo aos berros:
- Desgraçada! Cachorra! Se você fosse uma Levis eu não precisaria produzir milhares pra ganhar a merreca que eu ganho.
E é aqui que eu entro com todo o meu conhecimento de economia.Uma tese que surpreende a mim mesmo e que, depois de muito pensar, resolvi dar umas pinceladas de economês no título: “Aspectos relativos do consumo pelo menor preço”. Nesse tratado de 12 palavras eu digo tudo o que penso sobre os produtos baratos. Lá vai: produtos baratos precisam ser ruins para durarem pouco para serem adquiridos novamente. Nunca ninguém conseguiu, com tão poucas palavras, dizer tanta besteira. Mas que eu sinto isso, sinto. E como sinto.
E mesmo assim o trash brasileiro ainda permite algumas vantagens.
É melhor adquirir uma camiseta pólo de 20 reais que dure 3 meses em bom estado, do que uma outra de 150 com apenas o dobro dessa durabilidade. Você vai estar pagando sete ou oito vezes a mais e lucrando apenas o dobro da vantagem.
Um simples passeio, sem muita profundidade, pela maioria dos produtos de consumo cotidiano é de deixar estarrecido. Papéis higiênicos deveriam trazer escancarados nas embalagens: mais ou menos 40 metros. Dessa forma eu não me sentiria lesado. Todos os que eu medi não chegavam a 30 metros. E constavam 40 na embalagem.
As caixas de fósforos usam desse artifício e sempre deu certo. E já que a safadeza é liberada para as caixas de fósforo porque não amplia-la para toda a produção nacional?
Assim poderíamos ter leites relativamente pasteurizados, cafés de média pureza - com selo específico da abic-, e pães com aproximadamente 50 gramas. Tudo ficaria certo, afinal o enganado consumidor brasileiro sempre consumiu isso mesmo. E pelo menos, dessa forma, seria tratado com mais honestidade.
Poderíamos freqüentar hospitais com assepsia diária, semanal ou mensal. E correríamos um risco consciente. Da mesma forma, também matricular nossos filhos em escolas particulares com corpo docente bem definido. Pequena, razoável ou média capacidade. Esta última ainda indisponível pra consumo. Talvez demore.E que tal lâmpadas classificadas pela durabilidade? 30, 60, 90 ou 120 dias? Ou também lâmpadas relâmpagos (aquelas que duram apenas uma hora e queimam-se na velocidade da luz).
Das duas uma: ou é a industria Brasileira que não tem capacidade ou as informações vindas nos produtos é que estão erradas. Tenho a quase certeza de que a segunda hipótese é que é a verdadeira. Sendo assim uma conseqüência da primeira.
Mas o que me deixa p. da vida realmente é tudo aquilo que pode ser consumido ao nível de apenas um real. Pastéis e quibes espíritas, totalmente desencarnados. As coxinhas ao estilo prótese: duras e ocas, as esfirras desidratadas e aquela extremada porcaria chamada café expresso. Porque é com eles que eu sofro diariamente na cantina da dona Lôra, aqui na esquina. Uma das milhares de criminosas que compõe o terrível quadro da pequena empresa nacional, Mas que pode muito bem funcionar como termômetro da honestidade do Brasil. Enquanto essa mulher não for presa uma coisa vai ficar bem entendida: o Brasileiro continua a ser tratado com desrespeito e desonestidade.
Meu sonho é vê-la na cadeia.

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