O PRÓDIGO
Eu não me encanto com qualquer encanto
Não brilha em mim o que nasceu sem brilho.
Mas me extasiam as deformidades.
A excelência é monstruosamente
o que não cabe em frascos, comprimida.
E assim sendo precisa de espaço pro seu lume.
Mesmo em silêncio, fala-me. Embeleza.
Pois o infinitamente belo não se mostra
Nem o infinitamente sábio se exibe.
Aos olhos insensíveis será feio,
Aos cérebros perdidos, será asno !
Há um castigo por traz de cada dote.
Tudo tem seu preço e será pago.
Ninguém pede o que é bom, mas vem cobrado
Algumas vezes apenas em ser vadio.
Outras vezes vem a conta na loucura
Nos defeitos da carne, na feiúra
No caminhar sem rumo, na desdita
No infortúnio, na própria miséria.
Ai de quem nascer bem mais dotado
Pagará caro o lote e o arremate
No preço da frieza, o eu calado
Ou no da própria vida indiferente.
Cicero Cavalcanti
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