A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR
Eu e quase toda a população de Rondônia concordamos em um ponto. Digo quase toda porque é preciso retirar dessa minha generalização os puxa-sacos, os lambe-botas, os venais, os comprados, os coniventes, e outros tais que hoje vivem perto do poder com a sensação e as benesses do poder, mas que um dia qualquer desses, no futuro, haverão de se transformar em covardes e chorões nas mãos da justiça.
E o ponto em que a maioria concorda é que toda bordoada é pouca. Todo achincalhe é pouco. Toda a exposição das vergonhas ainda não satisfaz o desejo de ver vingados o choro, a decepção, a humilhação, a miséria e o desamparado dos menos favorecidos, em um estado que distribui com fartura, vultuosas verbas para eventos desnecessários, na contrapartida das reais necessidades aviltantes de sua gente.
Não vejo motivos pra piedade. Não visualizo espaços para complacência. E, se por enquanto não existe a esperança da justiça pelos trâmites legais dela, pelo menos que nos reste a todos a visão diária dessas impunes e vergonhosas ações, por toda a mídia. E acho até que ser chamado de safado por todos é pena pior do que alguns anos de sentença, cumpridos em regime aberto daqui a 10 anos mais ou menos, quando as contravenções e os crimes já estiverem guardados no arquivo morto da memória de nossa gente.
Eu apenas não concordo com a unanimidade. E isto porque é preciso ser justo. E também porque qualquer injustiça cometida por um juiz em sua sentença, o iguala ao malfeitor julgado por ele. Então que a justiça seja feita e as generalizações sem sentido sejam corrigidas a bem da democracia e da liberdade com as quais hoje todos nos vangloriamos. Portanto é preciso separar minuciosamente o joio do trigo, para que não haja o perigo de apenarmos inocentes ou homens de bem.
E isto tem uma razão simples: os crimes e os abusos cometidos por uma maioria sem escrúpulos não podem ser repassados a todos e muito menos para a instituição nobre que os abriga. E com toda a certeza a Assembléia Legislativa de um Estado não pode se tornar culpada pelos desmandos cometidos em seu nome. Isso seria como condenar toda a igreja católica por alguns padres que praticam as nojentices da pedofilia e outros abusos.
Jogar toda essa carga em cima de uma instituição que existe para ser um dos pilares da democracia é generalizar a safadeza e a corrupção. E com certeza, nem toda a nossa Assembléia é corrupta. Existem nela centenas de funcionários. Trabalham nela pessoas honestas e cumpridoras dos seus deveres. Atuam nela jornalistas corretos. E até alguns comissionados de gabinete não podem e não devem ser incluídos no rol da bagunça generalizada.
E digo mais: existem sim Deputados que não concordam com essas ações abusivas. Lá existem sim legisladores que resistem aos desmandos e ordenações fora do eixo da honestidade e justeza de caráter. Homens que não se entregam ao desfrute dessas barbaridades, mas que, infelizmente representam uma minoria e que assim não têm poderes para represá-las.
Então eu penso que a nossa Assembléia Legislativa do Estado de Rondônia não deve ser apenada por algumas dúzias de homens que mancham sua importância de poder necessário para o equilíbrio do nosso ideal democrático, em duas ou três legislaturas. Até porque a mentira, a falsidade, a ambição e outros males próprios dos seres humanos, já nascem com colunas vertebrais frágeis e de uma hora pra outra caem por terra exibindo a tetraplegia dos que as cometem. E que, aleijados pelo peso da própria consciência, devem ser jogados nos lixões da inutilidade pública.
Vamos expor sem dó as atitudes despudoradas dos que forem responsáveis por elas. Mas é preciso poupar o Poder Legislativo como se esse permitisse ou fosse conivente com essas deslavadas falcatruas. Até porque a desonestidade passa, e dias virão em que todos nos orgulharemos da nossa casa de leis e que nesse momento sim, merecerá a denominação de Poder do Povo.
Cicero Cavalcanti
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