sábado, 25 de outubro de 2008

O RADICAL E O MODERADO


Se alguém quiser uma boa opinião sobre o cenário político do Brasil e do Estado, precisa procurar diretamente na fonte: a boca do povo. Nada de ficar perguntando pra experts no assunto como cientistas políticos, intelectuais e até mesmo jornalistas de comportamento profissional duvidoso. Quem sabe de política é o povo, o agente ativo e passivo de toda essa pendenga. Porque é ele quem vota e autoriza, recebendo a contrapartida justa da sua escolha. Gente às vezes mal informada mas que tem o dom de captar , em meio ao zum zum zum do falatório das ruas e dos noticiários, opiniões próprias, que se bem interpretadas, podem servir de termômetro para medir a temperatura da satisfação ou insatisfação de todos.

Eu sempre fiz assim. E na minha medida, a pressão na panela anda muito alta e nem a válvula de escape do paternalismo disseminado pelo Governo Federal vai conseguir segurar por muito tempo a explosão próxima e anunciada. É que o descaramento e a falta de vergonha andam muito explícitos, ao ponto, como disse o Luis Fernando Veríssimo, de se tirar caraca do nariz em via pública e na frente de todo mundo.

Eu tenho duas opiniões que me servem de guia. Uma delas é a do Manuelão da oficina, o lado radical dos meus formadores de opinião. “ ...Cambada de felá da puta....” responde ele toda vez que pergunto sobre o cenário político desse Brasil afora.

E tem motivos sérios pra isso. Como líder de sua comunidade - um bairro pobre de periferia – não mede esforços para empreender melhorias que tragam mais qualidade de vida pra todos. E juntos já conseguiram muito, dentro das parcas condições econômicas de toda a comunidade. Gente organizada, que se reúne para definir prioridades, e logo em seguida parte pro trabalho em verdadeiros mutirões que parecem festas. No final, após o término de toda a empreita, ainda tem música, bate-coxa, caipirinha e refrigerante barato pra toda meninada.

Vocês nem imaginam o que o pouco é capaz de fazer nas mãos de pessoas com boa vontade. O bairro hoje tem quadra esportiva, uma pequena farmácia, ruas arrumadinhas. As datas baldias são todas muradas e tem também cinema de graça, vindo de um velho projetor comprado em “vaquinha” com um pouquinho de cada um. A escola do bairro recebe reparos constantes e as famílias não negam a ela suas atenções, participando ativamente de reuniões e atividades.

O posicionamento radical de Manuelão tem seus motivos. “...da vez passada um deles veio aqui e de novo enganou todo mundo” - reclamou o líder comunitário continuando sua estressada narrativa - “...teve discurso bonito e essa gente pobre ficou de boca aberta seu moço, com a belezura das promessas que saiam dele. Se fossem cumpridas apenas algumas delas, este povo ia morar num paraíso...”. “ Mas nada. Absolutamente nada. E ainda a gente gastou dinheiro na preparação de receber o candidato...”. “ Gente atoa . Sem escrúpulos. Que só pensa no bolso deles” – encerrou Manuelão com um ar ao mesmo tempo nervoso e magoado.

Outra opinião importante, se bem que mais moderada, é a da professora Inês Albuquerque, uma nordestina boa de briga, que veio parar por aqui na companhia de um ex marido alcoólatra e irresponsável. A mulher valente assumiu a família, hoje quase totalmente criada, e ainda dedica o tempo que lhe sobra na solução dos problemas da comunidade. “...O Brasil é grande e rico meu amigo – diz ela com o peculiar ar professoral - mas o que sobra de riqueza neste País é exatamente a quantia que vai parar no bolso da politicagem. E assim a conta fecha em zero. Fome zero, honestidade zero, educação zero, saúde zero. O dinheiro mesmo fica nas mãos “deles” e pro povo não sobra absolutamente nada. Eu dou oito horas de aula por dia e preciso fazer milagre para manter a família viva”. Ines conclui: “...tem jeito não”.

Como vocês perceberam essas são duas posições antagônicas, hoje comuns a todos os Brasileiros. De um lado um rio represado de irritação crescente e do outro a depressão e a tristeza generalizadas.

Cabe aqui as versões do otimista e do pessimista sobre a atualidade brasileira. Diz o otimista: “se continuar assim a gente vai acabar comendo merda”. O pessimista responde prontamente: “...é, só que não vai ter bosta pra todo mundo”.

Um comentário:

Cláudia Campello disse...

... não sei,
talvez cada povo tenha o governo q mereça mesmo.
há tantos corruptos... mas há tantos corruptiveis... será q não sabem mesmo o valor de um voto, Cícero?´
É o individual/egoismo sobrepondo à tdo.
mas fla prá d. Inês q tem jeito sim! Demora... mas tem! e isso não é utopia.

bj vc!