O SILÊNCIO
O Hélio é um amigão que me conta tudo. O cabra gosta de uma boa conversa do tipo mineira, pausada, calma e pachorrenta. Em suas visitas, ele senta no sofá, tira a sandália franciscana e começa a mexer no dedão do pé por cima da meia, branquinha, branquinha, que bem demonstra os cuidados que a comadre tem com ele.
Um dia o Hélio me contou que não ficou muito bem servido com o tal do aparelho de ar condicionado. E sapecou a história que durou quase meia hora, e que eu vou tentar resumir em poucas linhas. O amigo disse que a princípio quase não conseguia dormir com o ruído daquele sopro manso que sai do bocão gradeado da traquitana. Acordava toda hora e, entre desligá-la ou deixá-la ligada, preferia o benefício da temperatura gostosa, que se presta também como anestésico das pernilongadas no corpo.
O tempo passou e o Hélio foi se acostumando. O tempo passou de novo e o Hélio acabou como dependente daquele ronronar suave do aparelho, e já não conseguia dormir sem a zuadinha dessa deliciosa tecnologia. Se por acaso houvesse um corte de energia no meio da madrugada, ele acordava, e sem saber o por que. Algum tempo depois descobriu que era falta do som, que o bafo do condicionador fazia.
E é exatamente assim que eu me sinto hoje. Estava tão acostumado ao barulho que as letras faziam na minha frente, nos sites eletrônicos e nas nossas diversas mídias, que hoje o silêncio anda me deixando em vigília. Parece que as bocas, de uma hora para outra, se fecharam. Os amigos, que me contavam tudo e não escondiam nada, parecem todos amordaçados. E tão bem amordaçados que nem grunhidos se ouvem mais. O que se percebe é um silêncio imperioso, pesado, denso e amedrontador.
Será que os demônios, que antes me proporcionavam notícias de suas traquinagens e diabruras, se arrependeram e se bandearam todos para o lado da honestidade e do bom caratismo – como dizia o saudoso Odorico Paraguaçu? Será que não existe nem uma safadezazinha que mereça algum comentário, para eu saciar minha dependência por noticias de peitas e gatunagens, antes tão comuns ao meu cotidiano? Que poder foi esse que internou goela abaixo, tudo o que antes era explícito, escrito e exposto, por quem eu sempre aludi como advogados de defesa do povo?
Hoje tudo parece a nave de uma catedral imensa, onde, não sei porque cargas dágua, fica implícito que Deus gosta de silêncio. Da minha parte acho que não. Quem gosta de silêncio não cria trovão, vendavais nem bandas de rock. Deus gosta é de barulho. E por certo deve ficar enfadado com aquele ar mortiço que existe dentro de suas casas pelo mundo afora. Assim como a minha indignada pessoa, que entra em transe de alegria quando os trios elétricos passam roçando meus muros, nos dias de carnaval.
Por isso tudo, ando meio nervoso com esse bico fechado. Quero minhas notícias de volta. Quero saber o que anda acontecendo na Assembléia. Quero todas as letras que antes compunham o noticiário dos poderes do Estado. Eu ando aflito com esse silêncio de causa mal contada. Quero os meus demônios de volta. Quero as safadezas descritas uma por uma em todas as páginas. Abaixo a perfumaria que hoje caracteriza meus sites mais queridos!
Por favor! Que alguém dê um grito imenso e pavoroso, que venha a estremecer as estruturas dessa quietude e mostre que ainda existe vida nesse fingimento de desmaio.
2 comentários:
yeah! its much better,
Psssiiiuuuuuuu!
quieto!!!!!
beijinho...
............
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