VERDADE OU MENTIRA?
Não existe o que diga de si toda verdade. O que se diz são apenas negociações nebulosas que mascaram ou tendem a atenuar nossas deficiências. Às vezes, quando nos sentimos fortes, nos mostramos fracos, com medo que a nossa força incomode e atraia para ela, poderes não contabilizados. Doutras, quando nos sentimos fracos, tentamos nos mostrar potentes na angustia de sermos tidos incapazes. Há pior mentira do que a do próprio amor enclausurado? Aquele que precisa ser dito mas que , dentro da nossa inconsistência, é resguardado, para não sermos interpretados como frágeis.
Amores assim não são merecidos e não dão valor às almas que os hospedam. O verdadeiro amor precisa ser explícito às raias do despudor. É preciso deixá-lo subentendido nos olhares lânguidos que olham muito longe, mas não vêem nada. É preciso escancará-lo em sorrisos que nunca saem da boca. Na pele. Na vontade imperiosa de retocar constantemente os lábios. Em estar sempre limpo. Com a barba bem feita. Ou achar graça ao descobrir, já dentro do carro, que a chave ficou em cima da mesa do escritório.
Não exista o que exponha de si toda verdade. Há os que se dizem em paz enquanto um inferno interior lhe queima as vísceras. Há os que se transmudam em alegres, enquanto a própria alma chora. Estes tentam sorrisos que não convencem, assemelhados aos pintados na boca dos palhaços.
Há o agressivo que esconde sua violência como assassinos nos cantos das tocaias. Há a sensualidade, que todos declaram suja, apenas porque assim a queremos, para andar na contramão da nossa suposta e necessária animalidade. Há o camaleão que muda a cor de sua aura e de sua alma para, mentindo, ser igual a quem o rodeia.
Há o maquiavélico que ilude como prestativo mas que, fundamentalmente só espera contrapartidas maiores de tudo o que oferece. Há o intruso que se aproxima sorrateiramente, enganando com um certo desinteresse, e depois tentando todos os domínios. Existem os que mentem uma certa coerência e depois resvalam em surpreendente dissabores. Há os lobos em peles de cordeiros.
Não há quem diga de si toda a verdade. Mas o mais perigoso, o mais nefasto e o pior de todos os enganadores é o que se faz acreditar dessas falsidades. São capazes de genocídios em nome de purezas de raças. São capazes de lesar em nome da ambição, que crêem um privilégio Divino. São capazes de negar socorro em nome do salve-se quem puder da covardia.
Talvez sejamos todos assim. Não esse todo de uma só vez. Algumas dessas mentiras cabem em mim, outras com certeza servem para muitos. E outras ainda para todos. Somos humanos e a mentira nos é atávica. Quem sabe não é essa a única forma de convívio de toda a humanidade?
3 comentários:
Verdade ou mentira??? O q nos dá mais medo, Cícero???
Dentre todos os tipos q VC DESTACA eis o q eu mais temo:
"Há o camaleão que muda a cor de sua aura e de sua alma para, mentindo, ser igual a quem o rodeia." é esse aí, meu querido e lindo colega, q me rouba a paz, só de pensar...
E qto as nossa verdades e mentiras, heim??? E se eu tirar tda a máscara... quem me aceitaria de fato???... (Dá licença, vou bjar minha mãe)
beijo-te tbm,
Amigo, não o conheço, mas acho que está escrevendo no lugar errado. Seus textos tem o sabor das melhores crônicas nacionais. Parabéns. Continue. Estou sempre acompanhando o que vc escreve. Abraços.
Aqui se fugiu à regra- ISSO é VERDADE !!! Ou não ???
Gostei muito dessa ...
Beijos: Mariza !!!
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