DOCE ILUSÃO
Doce ilusão
Pode ter absoluta certeza. Na hora das escolhas pessoais, os seres humanos parecem querer sempre tudo o que vier acompanhado de algumas características básicas e indispensáveis. O sonho do automóvel é o exemplo disso. Antes de comprar todo mundo o imagina cheio de tecnologias, computador de bordo, airbags até no teto, estofamento de couro, motor super ultra rápido de grande potência e que faça no mínimo 20 km com um litro de óleo de cozinha, - de pastelaria japonesa - já usado. As rodas devem ser de titânio multiflex reidratado, para conseguir uma frenagem em 10 metros a uma velocidade de 150 km/h.
O design precisa ser arrojado e tão moderno, que o transforme em único perante seus pares, fazendo com que o seu feliz proprietário fique em pleno arrebatamente, ao ver bocas abertas e dedos apontando pra ele por todas as ruas. E agora vem o pior. O nosso sonhador quer pagar uma mixaria por ele. Dinheiro pouco e suado, juntado a custa de cortes radicais até na mesa.
O final da história é fácil de saber. Ele vai sair da revenda com um belíssimo Fiat uno ou, no máximo, um scort 92. E que dê-se por satisfeito. E a regra é simples: quem tem pouco pra dar, tem quase nada a receber.
Das mulheres então é melhor nem falar. Todas elas querem amor eterno, e o simples fato de você pegar na mão de uma delas, já as fazem pensar em um casamento pro final do ano. Querem um homem alto, malhado, cheiroso, bem vestido, educado, gentil, inteligente e pra piorar tudo com uma bela conta bancária. Tudo isso é possível, a não ser pelo fato de que o escolhido precisa ser a fidelidade personificada. É aí que a vaca vai pro brejo. Se eu que sou feio, pobre e moro longe, quase não dou conta da oferta feminina à disposição no mercado, imaginem um homem assim.
O final da história é fácil também de saber. Depois de insistentes buscas, e de passar de mão em mão por quase toda a torcida do flamengo, a maioria delas vai parar em uma casinha de periferia, com um gordinho careca, chulezento e safado. Daqueles que andam de camiseta com metade da barriga de fora. E o pior: dormem sem tomar banho e com um bafo de onça resultante de pinga, torresmo e cigarro à farta.
O eleitor Brasileiro é outro sofredor desse tipo. Sempre sonha com o impossível. Antes das eleições promete todo o cuidado na busca do candidato certo. Quer um representante trabalhador, assíduo, conhecedor profundo dos problemas do povo e que enfrente tudo e todos no afã de resolvê-los. Quer um político amigo, receptivo, com portas de gabinete sempre abertas e que não faça a menor diferença entre um gerente do Banco do Brasil e um aposentado doente que, sem dinheiro, vá lhe pedir pelo amor de Deus a graça de um medicamento.
O eleitor anseia por um ser humano honesto e verdadeiro, que não esbraveje falsidades de palanque e que tenha a compostura de um verdadeiro líder, merecedor de total confiança. Almeja por legisladores e governantes cultos, que saibam falar Beron com clareza e não espalhem aos quatro ventos que cultura é supérfluo e como tal, algo completamente desnecessário. Pretende lideranças afáveis e comedidas e que não explodam em bravatas quando alguém venha a criticar sua postura de sujo falando do mal lavado.
Mas o final da história é, mais uma vez, fácil de saber. O voto vai eleger seres humanos bifacetados. A face sorridente fica pra antes das eleições. Uma alegria que inspira confiança e que as vezes é capaz de chorar copiosamente ao falar sobre a miséria do seu povo. O lado teatral da falsidade que espalha benesses em frases de efeito, que se perdem pelo espaço e somem no vácuo do universo.
O outro lado é o lado da insensibilidade. A face da intolerância. O rosto do nojo de quem se depara com a podridão de hospitais imundos, escolas encardidas, policiais em miséria e por isso até cooptáveis, professores mal nutridos, f...... e mal pagos.
Enganações bienais que sempre deixa a ralé cada vez mais ralé, enquanto um espírito corporativo propõe a locupletação dos seus pares. Safadezas defendidas por todos como se fossem de somenos importância.
Todos sonhamos com lideres capazes de tirar o Brasil da miserabilidade e recolocá-lo de uma vez por todas no podium de um dos países mais ricos do mundo. Uma orquestra unísssona regida por um maestro competente, capaz de entoá-la em ricas harmonias. E o resultado é que sempre estamos onde paramos tempos atrás. E, a não ser pela esmola dada a um honeto cidadão, o resto é politicagem baixa, falsa, mentirosa e sempre enganosa.
Doce ilusão.
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