quarta-feira, 6 de maio de 2009

GRAN CIRCO BRASIL


O espetáculo chamado Brasil não pára de surpreender. A todo tempo, dia após dia, entra em cena, - em meio a um colorido circense repleto de bandeirolas, e coberto apenas com uma lona frágil e já quase transparente dissimulação – uma nova atração surpreendente. Trapezistas alçando vôos mágicos na imaginação incrédula do povo; malabaristas jogando artigos da constituição para o alto e cantando-os quando interessa; equilibristas amparados por redes corporativistas; trapezistas em saltos mirabolantes, no pula-pula que muda a subserviência de um poderoso pra outro, dependendo da oferta; e outras atrações frenéticas.

O último show foi o dos homens alados. Verdadeiros artistas com asas feitas de dinheiro público a voar despreocupadamente para todos os quadrantes do planeta, sob os ares da falta de decoro e em meio ao céu de brigadeiro da impunidade. Belo espetáculo. Artistas renomados e conhecidos nacionalmente através da mídia foram mostrados insistentemente exercendo seus podres poderes, que os levam a pensar a delicia do vôo livre e solto, acima do bem e do mal.

Aqui embaixo o aplauso era geral. Um dos maiores entusiastas repetiu insistentemente em não ver nada demais nisso. O que é que tem de mais no fato de levar namorada para Paris, como o fez o último pilar de minha credibilidade que era o Suplicy? Qual é o erro em hospedar a família inteira em hotéis estrelados com estadias dignas de reis, à custa do erário público? Qual é o crime de jogar pelos ares o dinheiro que falta para os campos de concentração e de horrores, que os governos estaduais chamam de hospitais? Qual é a vergonha de se gozar férias “merecidas” em troca do trabalho “árduo” feito em nome do povo?

Eu não poderia responder a essas perguntas. Da minha boca sairiam impropérios impublicáveis. Alguns deles seriam sérias ofensas às genitoras prostitutas que não têm culpa de ter colocado à luz tais filhos. Os cães também não mereceriam tais insultos, porque defendem mais o povo do que todo esse cast circense.

Mas o show continua. E pelas ruas desfila automóveis brilhantes com chapas frias. Elefantes imensos adornados com ouro e prata, soprando com suas trombas riquezas inestimáveis retiradas da miséria alheia. Leões famintos mordendo quase a metade do que vai à mesa de um povo em transe e pasmo, a presenciar a ofegante epidemia desse imenso carnaval. Garotas bonitas e de moral duvidosa, a entregar seus corpos juvenis às taras dessa grande orgia que mostra um festival de desumanidade contagiante e ao mesmo tempo deprimente. Uma depressão que fica clara no dorso arqueado de todos os que a carregam nas costas. Gente humilde que honra seus deveres de eleitores, mas são desonrados no exercício do poder por eles conferidos.

E olha o show aí. E dá pra ver nitidamente juízes engolidores da espada da justiça. Macacos de orelhas, bocas e olhos vendados a receber bananas para cumprir cegamente as ordenações de um treinador cruel e insensível. Dá pra ouvir o chicote estalando no lombo da desobediência. Dá pra ouvir o silêncio sepulcral de suas bocas, engolindo sapos imensos, sem qualquer alternativa de regurgitá-los.

E o show é eterno. E no gran circo Brasil já dura quinhentos anos. Show de cumplicidade entre a platéia e o artista. Show de conivência. Show de barbaridades que a cada dia coloca mais tristeza na face sem alegria de toda a gente Brasileira.

Ué... mas nesse circo não tem palhaço?

Claro que tem. Duzentos milhões de palhaços à espera de uma chance pra invadir esses picadeiros e transformá-los em cacos e cinzas. Mas que por enquanto compram seus ingressos de dois em dois anos, na obrigação imposta pela lei, para depois assistir em pânico esse show de horrores. O show tem que continuar.

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