COISAS MENORES
É fácil a vida repleta de mordomias e benesses vividas pelos políticos do Brasil. Vida fácil com mesa farta e sofisticada de graça, bebidas importadas, assédio de mulheres sensuais, salários milionários, vôos livre para todos os quadrantes, telefone franqueado, auxilio moradia, imunidade parlamentar e muitos outros favorecimentos, que transformam em semideuses, homens cujo maior passatempo é trair a confiança de votos recebidos.
Difícil é não ficar indignado com ela, quando a comparamos com a maioria absoluta dos quem vive em plena fartura do farta isso, farta aquilo e farta tudo.
Enquanto de um lado o poder submerge cada vez mais na sua própria falta de vergonha, do outro o povo do Brasil se afoga no mar das necessidades, onde o limite entre a vida e a morte, o emprego e o desemprego, a saúde e a doença, a educação e a burrice, a cidadania e a criminalidade, pode ser calculado em um valor aproximado entre vinte e cinqüenta reais por mês, que faltam no orçamento.
O mordomo de Madame Roseana, por exemplo, tira da necessidade geral, ampla e irrestrita, doze mil reais por mês, pagos pelos impostos do arroz, do feijão, da farinha, comprados com a juntada de moedas, na maioria dos lares do País. Só o que ganha por ano esse feliz mordomo, seria suficiente para a aquisição de mil e duzentas cestas básicas e colocar um sorriso na face esquelética de centenas de crianças. Enquanto isso nossa infância reclama de merenda escolar, mesmo com rios de dinheiros disponibilizados para esse fim.
O ilustre e abençoado Agaciel Maia, outro exemplo, recebe no caixa do Senado Nacional a importância de vinte e cinco mil reais, também retirados dos impostos do pão, do leite, da carne moída, do macarrão ou da falsidade do fome zero, que hoje deve ultrapassar a casa do fome vinte milhões. Só esse dinheiro seria capaz de proporcionar – somados os doze meses, mais décimo terceiro e décimo outros tantos - transporte coletivo para 10 mil pessoas por ano, sem risco de ausência no emprego por absoluta falta de numerário.
E o resto? Ninguém pode calcular o número total desse resto. Ninguém sabe ao certo quanto a alta corte legislativa do País despende nessas mordomias safadas e desnecessárias. Está tudo submerso e escondido nos cofres dos atos secretos e da bandalheira generalizada, onde milhares de pessoas se locupletam de dinheiro surrupiado da nossa miséria, sem qualquer senso de responsabilidade ou escrúpulo de qualquer natureza.
Agora imagine tudo isso na escala do Brasil inteiro? Cerca de cinco mil e quinhentas câmaras de vereadores, 27 assembléias legislativas, 27 governadores, secretários, assessores, puxa sacos, asseclas, cúmplices, diretores e outros apaniguados de toda ordem.
Coisas menores, como bem disse o Presidente. Ou mais exatamente: “O que não pode é um país com tantas coisas importantes como o Brasil ficar discutindo coisas menores que o Tribunal de Contas [da União] pode investigar". Tribunal de contas também repletos de parceiros e compadres.
A corrupção hoje é algo tão inerente à política nacional que faz com que um Presidente da República venha a público para tratá-la como fato de pouca importância. Engano do Presidente. O País pode parar sim. Como parou depois da última orgia imperial da ilha fiscal no Rio de Janeiro, que mudou e extinguiu a monarquia no Brasil. Por muito menos que isso a Russia derrubou os seus Czares. Por muito menos que isso a França mudou a sua história.
Ninguem sabe do que é capaz um povo inteiro encurralado e sem saída. Sem saída, sem futuro, sem educação, sem saúde, sem segurança e sem nada, tendo à frente o cenário luxuoso e estupendo dos malversadores do dinheiro do povo, em gastanças também sem medida.
Coisa menor é não ter vergonha na cara.
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