SEGREDOS DE ESTADO
Há quem diga que um segredo só existe enquanto ninguém sabe da existência dele. E a partir do momento que alguém tome conhecimento, todas as probabilidades caminham para que ele seja totalmente revelado. Esse é o caso dos crimes misteriosos praticados por delinqüentes astutos e inteligentes que sempre imaginam ter realizado o delito perfeito. Ledo engano. Aqui e ali a minuciosa varredura policial vai descobrindo seus tênues rastros e imperceptíveis pistas até entender a ação criminosa em todo o seu contexto.
E estamos falando de segredos guardados por uma única pessoa. E não de assuntos públicos e principalmente das ações praticadas com interesses particulares e que resultam em benefícios financeiros de grupos de pessoas ou instituições sociais. Quando se trata então de poderes públicos com laços do tipo “faz isso e eu faço aquilo ou faça aquilo e eu faço isso” tudo pode caminhar bem e em paz, mas os resquícios e lixos que compõe os restos não publicáveis dessas negociações nem sempre ou quase nunca podem ser guardados nos porões sombrios e irreveláveis de todos os envolvidos.
É que vez por outra alguma coisa escapa. Às vezes um boquirroto inesperado, com alguns goles a mais na cabeça, inconseqüentemente revela algo aparentemente inocente. Outras vezes um cochicho de corredor, cercado de paredes- hoje em dia não confiáveis e cheias de ouvidos, - descuidadamente revela mais um pedacinho da tramóia. Uma anotação por vezes sem significado e resultante da reunião de acertos dos benefícios, coloca mais uma pedra no quebra cabeças. E assim lá vai o nosso caminhão de lixo de negociatas, carregado de coisas nojentas, sem perceber que durante o seu percurso a podridão vai caindo em pequenos dejetos pelas ruas. Desses pequenos detalhes nasce a conversa a meia boca. Dessa conversa surgem os burburinhos e deles o assunto em pauta e finalmente o boato.
Mas tudo vai bem nesse “dandá pra ganhar tem-tem”, enquanto os envolvidos cumprirem fielmente suas partes nos acordos. Aquele que “não sabe de nada” convive com tranqüilidade com o outro que “nunca ouviu falar disso” e todos juram de pés juntos a inocência comum, cuja culpa, ao final, vai cair sobre as aves de rapina da imprensa, que teimam em adorar denegrir a imaculada imagem da vida pública.
Tudo vai bem até que uma surpresa aconteça. De uma hora pra outra uma das partes resolve colocar o pé no freio, porque percebe indícios de rebeldia no antigo aliado. O aliado, com raiva e indignação ameaça abrir caixas pretas. E nesse afã usa de todos os microfones disponíveis para espalhar aos quadrantes, que seus antigos amigos hoje se transformaram em quadrilha de malfeitores, gente de péssimo caráter e foras da lei, merecedores de todas as sanções legais. E as palavras vão mais longe ainda. Declaram em alto e bom som que esses atuais inimigos estão indo de encontro à legislação vigente, em ato de claro desrespeito aos interesses do povo.
A parte achincalhada se defende. A parte achincalhante contra ataca. O resultado é uma platéia bestificada e atordoada, a perceber a bambeza e a fragilidade na qual é sustentada a solidez do que se imagina ser uma Democracia. Platéia composta de eleitores pegos de surpresa e que passam a anotar em suas cadernetas de memória a lista negra dos nomes que devem ser expurgados da vida pública de Rondônia.
E o impasse fica imposto. E a guerra fica declarada. Só um novo acordo feito em madrugadas sonolentas, pesadas e amazônicas, em lugares desconhecidos e sem câmeras escondidas, vai poder por um fim nesse que são os grandes imbróglios já vividos por toda a história das velhas e estranhas maquinações politicas.
(Este texto é mero exercício de criatividade do autor. Qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência).
Cicero Cavalcanti
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