TEMPOS MODERNOS
Antigamente as coisas eram bem diferentes. Tão diferentes que eu me lembro bem de certa vez que um funcionário de um banco qualquer, levou carta ao meu avô comunicando o protesto de um título dele. Tempos antigos quando títulos protestados eram motivos de vergonha, tanto para os negócios, quanto para a família. É preciso defender meu avô e deixar claro que a inadimplência se deveu à natureza, uma seca medonha que destruiu toda a tarefa de meses de plantio. Mas os tempos, como já disse, eram antigos, e ao invés de propor um acordo ou um parcelamento da dívida, o gerente do tal banco teve a infeliz idéia de sujar o nome de um Cavalcanti muito mais honrado do que este arremedo de escriba. O resultado foi dois revólveres na cintura, um cavalo encilhado e o desespero da família.
Com muito custo a minha vovó – mulher valente, que Deus a tenha – conseguiu comunicar com alguns amigos da família o homicídio certo e que se daria em pouco tempo. Tais amigos conseguiram cercar meu avô na porta do banco evitando assim a tragédia iminente. O fim dessa história é que o gerente foi demitido e o banco, após enviar sinceros pedidos de desculpas, acabou por propor uma negociação justa do total do débito.
Insistindo no bordão, os tempos eram antigos. Tempos em que homens respeitavam homens, não por medo ou por valentia, mas porque homens eram homens, e assim deviam ser chamados pelo passado de honestidade e justeza nos negócios e nos relacionamentos familiares. Tempos em que agiotas eram párias sociais. Ninguém os convidava para eventos ou ocasiões festivas. Tempos em que a honra era questão de vida ou morte.
Hoje os tempos definitivamente são outros. Tempos em que a mídia de um País inteiro escancara a fornicação – com uma fornida morena, diga-se de passagem – e a corrupção ativa de um Senador da República, aduzidas ( prometi que um dia usaria esse termo bobo, tão insistentemente aplicado no cenário jurídico) com provas substancias colhidas por esse Brasil afora e absolutamente nada acontece.
Tempos em que um Governador do Estado – hoje com vários processos na justiça, inclusive um por compra de votos - vai pra imprensa Nacional e aniquila duas legislaturas. Na primeira até com certa razão, e na segunda, sem nominar quem quer que seja, chama uma Assembléia inteira de quadrilha de mal intencionados. E o pior: os Excelentíssimos Srs. Deputados não disseram uma palavra contra a Rede Globo, responsável pela publicação da entrevista no seu portal G1, mas se revoltaram contra o Diretor deste site que apenas publicou inteligentemente a mesma notícia.
Tempos em que um Deputado faz o mesmo. Depois de trocar, sem explicar os motivos, a tribuna - que é o verdadeiro lugar onde um Deputado deve manifestar suas indignações -, por um veículo de comunicação, levanta suspeitas sobre todos os seus pares, que, ao contrario do meu avô, não posso defender.
O resultado é um Paladino da Justiça passando por maus pedaços e uma assembléia inteira em verdadeiro frisson e que em pouco tempo vai tentar expor a vida pregressa desse justiceiro. Uma assembléia que hoje vive bombardeada por toda a mídia do Estado, e que já faz muita água nesse seu lento e sofrido naufrágio.
Fico imaginando o meu avô como Deputado na legislatura de hoje. Se por um título protestado ele quase comete uma desgraça, imagino o que faria se fosse chamado de ladrão publicamente.
Mas os tempos são outros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário