segunda-feira, 17 de setembro de 2007

BRASIL. UM PAIS DE TODOS.


João Alves acordou cedo para namorar sua bicicleta nova. Estava todo orgulhoso da compra, se bem que no seu peito, bem lá no fundinho, ainda magoava a dor de ver perdida a velha companheira de cinco anos. Perdida não, roubada. Sua querida magrela lhe fora surrupiada enquanto fazia suas compras domingueiras na feira do bairro, a cinqüenta metros de uma delegacia especializada em roubos e furtos. Com ela João havia conhecido madame Cristina Alves, hoje sua digníssima esposa, que à época trabalhava de doméstica em casa de gente chique. Quantas vezes, nessa antiga bicicleta, João carregara Cristina ou na garupa ou no quadro onde sentia a presença próxima do corpo bonito da morena.


Mas os tempos são outros. Bicicleta morta, bicicleta posta. E o orgulho da nova aquisição já cobria os espaços de saudade deixados pela outra. E hoje é domingo. Dia de compras. Dia de ir ao Supermercado com madame, sentada no quadro e com uma listinha guardada dentro da bolsa. O conforto da nova “bike” custou 350 pilas economizadas a ferro e fogo pelo serralheiro João Alves, dos quais aproximadamente – sou honesto em dizer o desconhecimento sobre o imposto que incide sobre bicicletas – uns 140 reais foram parar nas mãos do Governo, exatamente para cobrir as despesas com a segurança que faltou no roubo da sua bicicleta.


E vamos em frente porque a fila anda. No supermercado, João Alves nem percebeu a gula de seu único e implacável sócio, que gordo e invisível, esfregava as mãos de satisfação a cada vez que madame Cristina buscava uma mercadoria na prateleira para colocar no carrinho. Do detergente, esse maquiavélico sócio ficou com 40,50%, que bem poderia servir para dar uma boa desinfetada no congresso nacional ou nas câmaras dos deputados por esse Brasil afora. Do sabão em pó a mordida foi maior: 42,27% e o cenário político continua sujo. Desinfetante e Água sanitária 37,84 % e nada de limpeza.


E assim por diante. Biscoito 38,50%. Açúcar 40,50%. Farinha de trigo 34,47%. Macarrão 35,20%. Óleo 37,18 %. Margarina 37,18% e etc...e etc...


Fechada a conta no caixa João Alves tira com uma certa satisfação 235 reais da carteira e paga com uma sensação de dever cumprido. A família composta por 4 pessoas iria poder se alimentar parcamente mas com dignidade, sem perceber que mais de oitenta reais foram repassados para os cofres do Pais e dos Estados. Dinheiro limpo, ganho à custa de suor e trabalho, mas que em breve iria se prestar a imensas falcatruas e safadezas de toda ordem. Dinheiro com mentira embutida que deveria servir para melhorar a educação, para a segurança, saúde e outras necessidades básicas dos que trabalham e contribuem. Mas não foi só isso. Dos 85 reais pagos na conta telefônica 35 foram para esse mesmo fim. Da energia elétrica mais 43%.


E assim segue a vida de João Alves. Trabalha 4 meses por ano pra encher as burras da irresponsabilidade e insensibilidade de quem tem o comando no Pais. 4 meses de trabalho cujo resultado é o perigo, o esquecimento, a insegurança, a insalubridade, e os riscos de toda ordem.

Já é noite. João se refestela no sofá da sala. Na televisão uma propaganda política informa o crescimento do País. João se sente orgulhoso de participar ativamente dos ideais socialistas do seu partido político. E a propaganda termina: Brasil, um País de todos.

Um comentário:

Anônimo disse...

E nosso "GIGANTE" continua deitado em berço esplêndido...
Parabéns CÍCERO!