BRASIL. UM PAIS DE TODOS.
João Alves acordou cedo para namorar sua bicicleta nova. Estava todo orgulhoso da compra, se bem que no seu peito, bem lá no fundinho, ainda magoava a dor de ver perdida a velha companheira de cinco anos. Perdida não, roubada. Sua querida magrela lhe fora surrupiada enquanto fazia suas compras domingueiras na feira do bairro, a cinqüenta metros de uma delegacia especializada em roubos e furtos. Com ela João havia conhecido madame Cristina Alves, hoje sua digníssima esposa, que à época trabalhava de doméstica em casa de gente chique. Quantas vezes, nessa antiga bicicleta, João carregara Cristina ou na garupa ou no quadro onde sentia a presença próxima do corpo bonito da morena.
Mas os tempos são outros. Bicicleta morta, bicicleta posta. E o orgulho da nova aquisição já cobria os espaços de saudade deixados pela outra. E hoje é domingo. Dia de compras. Dia de ir ao Supermercado com madame, sentada no quadro e com uma listinha guardada dentro da bolsa. O conforto da nova “bike” custou 350 pilas economizadas a ferro e fogo pelo serralheiro João Alves, dos quais aproximadamente – sou honesto em dizer o desconhecimento sobre o imposto que incide sobre bicicletas – uns 140 reais foram parar nas mãos do Governo, exatamente para cobrir as despesas com a segurança que faltou no roubo da sua bicicleta.
E vamos em frente porque a fila anda. No supermercado, João Alves nem percebeu a gula de seu único e implacável sócio, que gordo e invisível, esfregava as mãos de satisfação a cada vez que madame Cristina buscava uma mercadoria na prateleira para colocar no carrinho. Do detergente, esse maquiavélico sócio ficou com 40,50%, que bem poderia servir para dar uma boa desinfetada no congresso nacional ou nas câmaras dos deputados por esse Brasil afora. Do sabão em pó a mordida foi maior: 42,27% e o cenário político continua sujo. Desinfetante e Água sanitária 37,84 % e nada de limpeza.
E assim por diante. Biscoito 38,50%. Açúcar 40,50%. Farinha de trigo 34,47%. Macarrão 35,20%. Óleo 37,18 %. Margarina 37,18% e etc...e etc...
Fechada a conta no caixa João Alves tira com uma certa satisfação 235 reais da carteira e paga com uma sensação de dever cumprido. A família composta por 4 pessoas iria poder se alimentar parcamente mas com dignidade, sem perceber que mais de oitenta reais foram repassados para os cofres do Pais e dos Estados. Dinheiro limpo, ganho à custa de suor e trabalho, mas que em breve iria se prestar a imensas falcatruas e safadezas de toda ordem. Dinheiro com mentira embutida que deveria servir para melhorar a educação, para a segurança, saúde e outras necessidades básicas dos que trabalham e contribuem. Mas não foi só isso. Dos 85 reais pagos na conta telefônica 35 foram para esse mesmo fim. Da energia elétrica mais 43%.
E assim segue a vida de João Alves. Trabalha 4 meses por ano pra encher as burras da irresponsabilidade e insensibilidade de quem tem o comando no Pais. 4 meses de trabalho cujo resultado é o perigo, o esquecimento, a insegurança, a insalubridade, e os riscos de toda ordem.
Já é noite. João se refestela no sofá da sala. Na televisão uma propaganda política informa o crescimento do País. João se sente orgulhoso de participar ativamente dos ideais socialistas do seu partido político. E a propaganda termina: Brasil, um País de todos.
Um comentário:
E nosso "GIGANTE" continua deitado em berço esplêndido...
Parabéns CÍCERO!
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