domingo, 11 de maio de 2008

PRA INGLÊS VER.



No sábado passado o jornal inglês The Guardian teceu consideráveis elogios a um certo novo Brasil que começa a emergir no cenário econômico internacional. O diário da Inglaterra enalteceu o controle da inflação no Brasil, admirou as reservas do País, aplaudiu a pujança das exportações Nacionais e ainda adjetivou positivamente nossa indústria e agropecuária, classificando-as como uma nova fronteira de peso na balança produtiva de todo o planeta.


De imediato a mídia Brasileira reagiu. Alguns jornalistas classificaram essas benesses como sorte. Outros as entenderam como resultado dos bons ventos que sopram sobre a maré mansa da economia mundial, alguns que esses resultados não são de responsabilidade deste governo e sim da continuidade de planos do passado e outras pauladas, outros ainda de que esses acontecimentos é pura sorte do Lula e etc...


Mas isso é assim mesmo. E como disse o grande Nelson Rodrigues “Toda unanimidade é burra”. Quem é a favor é a favor, quem é contra é contra e cada um tem o direito de expor seu pensamento de forma livre como soe ser em um regime democrático. E precisa ser assim. O importante é que, quebrado todos os ovos, a omelete do entendimento público seja completa e traga os sabores de todos os ingredientes.


Tudo ia bem na rasgação de seda dos jornalistas ingleses até que inesperadamente a matéria descamba pra criticas severas sobre a educação, a segurança, a saúde e outras necessidades básicas de todos os povos. A partir desse momento a coisa muda de figura. A matéria reporta que esses passam a ser o grande desafio do desenvolvimento aspirado pelo País, como um entrave ou uma barreira, que logo logo irá se contrapor ao nosso crescimento econômico e aspirações de potencial mundial.


Concordo plenamente. Não existe desenvolvimento sem conhecimento. Não existe desenvolvimento sem ciência e tecnologia. E isso significa que, em futuro próximo, o mercado de trabalho, cada vez mais especializado, vai necessitar de importação de mão de obra sem qualquer chance pra juventude de hoje que, dia após dia chega ao mercado de trabalho totalmente despreparada. Isso significa também que estaremos a mercê da pesquisa e das descobertas científicas internacionais, que irão nadar de braçada em nossas novas necessidades, como já anda acontecendo.


Concordo em tudo. Até porque não há como empurrar um País descomunal como o nosso a partir de braços doentes e sem qualidade de vida. Enquanto a nossa cana de açúcar impressiona o mundo pelas riquezas e energia por ela geradas, o trabalho escravo e desumano necessários pra esse sucesso reflete a frieza do capitalismo antigo praticado em um País, onde o que importa é o fim e não os meios para consegui-lo. Talvez esteja exatamente aí a razão de tanta exuberância. O Brasil cresce como País desenvolvido, mas seu povo vive como a massa humana desprezada das regiões mais pobres do mundo. Na produção semi escravizada de grande escala e de baixíssimo custo.


Concordo totalmente também no que tange à segurança pública. Enquanto a riqueza nacional faz brilhar os olhos dos poderosos na economia mundial, nossa nação vive uma revolução interna branca entre patrimônios incomensuráveis, classe média de baixo poder aquisitivo, e as regiões abissais da miséria absoluta, vivente das benesses paternalistas do Governo e longe ainda da classificação de trabalhadores com plenos direitos. Outrossim figurantes apenas, nesse grande cenário desenvolvimentista. Adicione-se a essa sopa de ingredientes duvidosos a corrupção generalizada que desavergonhadamente tenta diuturnamente roubar ainda mais das já rasteiras possibilidades de vida de todo o nosso povo. Pronto. Está aí nossa panela de pressão com a válvula da segurança emperrada. Uns dizem que vai explodir a qualquer momento. A mim me parece que já explodiu, salvo engano.


È preciso lembrar aqui um ditado popular antigo que define em poucas palavras tudo o que é bonito apenas externamente e horroroso no seu interior: “...por fora bela viola. Por dentro pão bolorento “. Isso define bem o momento progressista do Brasil. Progresso edificado em alicerces inseguros. Em terreno frágil.


Coisa pra Inglês ver.

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