sexta-feira, 16 de maio de 2008

A BOA E A MÁ NOTICIA


A BOA E A MÁ NOTICIA.


Ontem eu acordei com a Ana Jatobá. E com o marido da Ana Jatobá. E com a rival da Ana Jatobá. E com a família da Ana Jatobá. E com o povo do Brasil que odeia a Ana Jatobá. E com os presidiários que estão em pé de guerra contra o marido da Ana Jatobá e com a própria Ana Jatobá. Tem um mês que meus olhos não vêem outra coisa além dessa mixórdia repugnante de noticias, audiência e desrespeito ao cidadão Brasileiro. Chega disso! Já foi provado e comprovado tudo. Mas a mídia não descansa. Enquanto houver um pouquinho de caldo nesse bagaço já espremido mil vezes pelas moendas da comunicação no Brasil, a gente vai ter que continuar agüentando.


A situação é tão grave que o assassinato da criança já ficou em terceiro plano. O que está importando mais são as nuances mórbidas do assunto. As manchas de sangue que espargiram do sofrimento de uma criatura inocente. As cenas do supermercado. As brigas de comadre entre as rivais enciumadas do mesmo macho. A defesa com argumentos antigos dos advogados. A repetição das cenas de reconstituição do crime. As entrevistas que abrem espaço para comentários de toda a família e outros detalhes que interessam muito mais à audiência, do que saciar a sêde de justiça deste povo, que faz muito tempo tem encontrado o poço da probidade e da justeza de caráter totalmente seco.


Mas está aí a resposta. O Brasileiro vive momentos tão injustos que o assunto em voga passou a ser a injustiça. A safadeza anda de tal monta que a audiência se volta totalmente pra ela, focando diuturnamente as artimanhas de todos os poderes do Brasil. E tome ardis e maracutaias de todas as espécies e tamanhos. Se uma Ministra não concorda com o olho gordo que a economia internacional coloca em nossa Amazônia, e de uma forma ou de outra age no sentido de barrá-la, a reação é imediata e a fritura da seringalista do Acre inunda com o mau cheiro da conivência, o Brasil inteiro.


Em todo o País não é diferente. Todos nós queríamos estar parabenizando nossos homens públicos. Todos nós queríamos era estar agradecendo as benesses vindas de quem tem por obrigação gerir com decência a coisa pública. Os Brasileiros adorariam receber boas noticias mesmo que pequenas, e que anunciassem que não faltam atendimento digno em nossa saúde ou remédios para os seus males. Queríamos ler, ver e ouvir que finalmente nossos governantes entenderam as agruras da nossa educação, cujas bancas examinadoras nacionais pontuam como sofríveis. Queríamos era saber que vamos passar a pagar metade da carga de impostos que obriga o Brasileiro a trabalhar quatro meses por ano pra sustentar a roubalheira generalizada. Assim como no México ou no Chile.


Mas não. Ao invés disso somos intoxicados por informações carregadas de mau cheiro, em uma nuvem espessa e densa de fuligens que nos imunda a todos. Estamos sob a pior de todas as poluições que podem afetar a saúde do ser humano. A poluição da alma. A sujeira do espírito que, mais maléfica que a ambiental, nos invade a alma e cria um ambiente de insegurança e medo, além de estremecer as estruturas de formação da personalidade de toda a nossa juventude. Jovens que hoje se sentem atraídos pelo crime porque ele vem bem acompanhado da sedução da impunidade.


E não culpem a mídia por isso. A comunicação de um País é o seu retrato. E no nosso caso uma fotografia desfocada e tremida de uma imensa festa com o dinheiro do povo. Com quatro milhões por ano pra cada deputado. Com mordomias de toda ordem. Viagens, telefone, despesas pessoais, automóvel, combustível e outras incontáveis mamatas.


A boa noticia é que novas eleições se aproximam. E com ela quem sabe podemos aliviar um pouco essa pressão imensa que os poderes fazem sobre a mídia Brasileira ocupando todos os seus centímetros. Quem sabe unidos poderemos reverter esse quadro de agonia que noticia, diuturnamente, gatunos e todas as espécies de punguistas.


A má noticia é que talvez o povo continue o mesmo. E na insensibilidade da pele sovada pelas surras, nem sinta mais a importância de exterminar de uma vez por todas com os algozes do seus sofrimentos e não se dêem conta da importância dos seus votos.

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