O CIRCO
O monstro do poder começa lentamente a sua movimentação bienal. Dorme durante dois anos no berço esplêndido do poder e depois acorda, faminto e sedento. Uma vigília forçada, pois é chegada a hora da sua mais esperada piracema. Desperta apenas para buscar votos, o alimento que alimenta de dois em dois anos sua enorme pança. O monstro, carregado por lacaios e seres inferiores, começa a abrir os olhos e estender seus tentáculos tentando trazer para si a pesca graúda dos tubarões da iniciativa privada, que mais tarde também se banquetearão do imenso comensal servido à custa do trabalho insano de lambaris e piabas. Banquete proporcionado por aqueles que dão duro incansavelmente para apoiá-lo, conscientes de que depois deverão ser devorados por ele.
Já é possível ver um começo de redemoinho no meio das águas. È ele. Por enquanto ainda no seu lodo, esticando seus tentáculos para buscar apoio e assim não ser jogado na cachoeira da rejeição para despencar na planície do merecido esquecimento.
O monstro acorda vagarosamente. E de imediato começa sua tática diabólica para se manter vivo. Estira um dos seus imensos tentáculos em direção a partidos políticos vendilhões e seus signatários processados e indecentemente ridicularizados por toda a mídia. Ali suas ventosas se grudam, cooptando mentes desequilibradas para o serviço de estender redes transparentes, que em breve servirão de armadilhas para uma população inocente e incauta, que será capturada por elas. Com outro, busca a simpatia dos poderosos que querem apenas a manutenção da ordem vigente, para não perder as mamatas, mamadas em quentes e saborosas tetas dadivosas. Outro tentáculo vai buscar parcerias na iniciativa privada, que jamais financia quem quer que seja a leite de pato. Existem conchavos nessa hora e promessas de retornos vultuosos a qualquer pequeno investimento. Outras lideranças também são atraídas e a moeda dessas aquisições é a perspectiva dos cargos públicos, que, afinal, não significa muita coisa, visto que um incompetente a mais ou a menos não faz diferença nenhuma.
E a intenção não é a de retratar esta campanha política ou quem quer que seja que esteja disputando um lugar ao sol, pra ficar no bem bom e deliciosamente instalado debaixo dos sombreros do poder. O objetivo é mostrar a mesmice de sempre. A rotina dessas maquinações enfeitadas de glamour e vestidas de fantasias, exatamente as sonhadas por um eleitorado que clama por soluções que serão prometidas à exaustão. E é por aí que tudo caminha. Primeiro conquista-se os poderosos, que conquistam os um pouco menos poderosos, que aliciam os ainda pouco menos poderosos, que caem no gosto dos lideres secundários, terciários e ordinários, até que tudo chega na raia do povo.
De repente o polvo se transforma em uma armação gigante. Seus tentáculos serão os suportes que sustentarão um imenso circo, que no terreno da fantasia sofrida dos menos favorecidos, irá tremular bandeirinhas e ofuscar com luzes coloridas a intenção de bem aventurança dos que vivem dos restos e das esmolas que sobram desse imenso desperdício.
Mal sabem os iludidos que irão votar nessa imensa enganação, que serão eles os cavalos domados, magros e mal cuidados, os astros e platéia dessa desumana figuração patética e disforme. Que eles, os eleitores, serão açoitados pelos domadores que colocaram no poder, fornecendo ainda os próprios chicotes. Que, em futuro próximo estarão andando na corda bamba da necessidade, de onde cairão como pacotes bêbados sem rede de segurança. Que serão os palhaços a tirar gargalhadas daqueles que passam a vida enganando, e depois vão se refestelar a custa de 40% retirados de todos os Brasileiros a título de impostos.
Da minha parte, fico torcendo pro circo pegar fogo.
(publicado também em www.oobservador.com.br)
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