domingo, 31 de agosto de 2008

A ESPERANÇA




Nunca fui capaz de conviver com a esperança.

Sua inexistência parece ter sido criada para dar densidade sem matéria à incapacidade humana.

Esperança é o que não é possível, nem permitido, e que nunca será realizado.

Até porque esperanças realizadas falecem como esperanças, marcando o princípio e o fim do que nasce sem existir e permanece eternamente inexistindo.

Para ser esperança a pretensão humana precisa passar por um critério de grandeza.

Esperanças pequenas e individuais não são esperanças, são anseios, são desejos humanos na maioria das vezes factíveis a não ser por falta de esforço e de trabalho.

Verdadeiras esperanças devem ser consensuais. Devem ser imensas para que nela caibam todos os seres humanos.

E também infinitamente cruéis por dizer não, impiedosamente.

Esperança é o alívio para os que se contorcem em dores. E só existirá enquanto persistir o sofrimento.

Esperança é o pão que alivia a fome. E como ainda vai longe o tempo da finada fome, sobreviverá como a alma da esperança.

Esperança é a parceria humana, apenas uma ilusão doce a alimentar o monstro da eterna espera.

Esperança é a destruição da desigualdade monstruosa em troca de uma desigualdade menor e suportável. É a honestidade e a justiça. É a oportunidade pequena, mas capaz de provocar inumeráveis sorrisos. Apenas esperança.

Esperança é um expectro. Algo indecifravel que teima em dizer que um dia caminharemos juntos. Sem esperança. Sem desperdiçar o tempo que se perde em esperá-la.

Nunca fui capaz de conviver com a esperança.

Não quero esperar nada, por ser em vão.

Quero agora, quero receber agora.

E quando sei que a esperança é a ultima que morre, o desespero aumenta.

Essa cruel não se sabe quem criatura, continuará existindo em sobrevida, após a última vida.

Um comentário:

Unknown disse...

Uau...Finalmente entendi o que significa ESPERANÇA...mto bom!