A LEI DE TALIÃO
Muito diferente do que todo mundo pensa, o tal de Talião, não era uma pessoa. Talião, que se escreve com letra minúscula é apenas um contexto jurídico muito antigo, pelo qual todo criminoso era punido, de forma exatamente igual ao crime cometido. Assim se alguém cegasse alguém em algum pega-pra-capá da vida, ele teria seus olhos perfurados, recebendo como castigo, a mesma atrocidade cometida. Isso valeria pra tudo. A um dente quebrado, outro dente quebrado e assim por diante.
Essa é a lei de talião. Vocábulo latino que se origina de tallis e que significa igual ou parelho. Essa lei radical tem origem meio duvidosa. Uns dizem que provém do antigo código de Hamurabi, que foi um dos mais célebres reis da Babilônia. Outros atribuem sua origem ao antigo testamento ou escrituras hebraicas que cuidavam do bom relacionamento entre Deus e os Israelitas. Isso não importa muito. O que importa é a sabedoria antiga, que muito bem poderia se prestar a dar um pouco de ordem na bagunça generalizada entre o dinheiro do povo e a mão leve dos nossos políticos.
Não que vá se exigir a amputação das mãos dos esfaqueadores, ou atrocidades físicas na contrapartida igual às que a criminalidade tem cometido à larga, por esse Brasil afora, por vezes em troca do dinheiro do dinheiro do vício. E nem venham com essa história de que pena de morte alivia os altíssimos índices de assassinatos que dá piques extras sistólicos no eletrocardiograma dos batimentos cardíacos da criminalidade. Diminui não. Amedronta mas não diminui.
Até porque os crimes merecedores dessas penas são pavorosos e pontuais, não significando a regra geral.
E também não partilho das diretrizes de penas altíssimas para furtos de menor importância, que podem muito bem ter penas de prestação de serviços à comunidade. Eu acredito que um pouco de justiça tem sido feita, mas as injustiças são maiores ainda. Ficar, por exemplo, um ano no Urso Branco ou em qualquer presídio do Brasil é pena pra genocídio, para crimes contra a humanidade ou coisa parecida. E não pra ladrões de galinha ou outras contravenções de menor porte.
Mas bem que a gente poderia ter, a título de diversão, algo que servisse de catarse pública para o sofrimento de toda a nossa gente. Eu imagino o povo na praça se deliciando, e com aquele gostinho do prato chamado vingança, comido quentinho e na hora.
Imaginem 10 chibatadas nas costas dessa bandidagem atoa e safada, em um domingo a tarde com todo mundo comendo pipoca na praça? Hein? Ou então 4 ou 5 políticos varrendo uma rua inteirinha, com aqueles vassourões imensos dos garis trabalhadores, em uma alusão clara à limpeza e higiene moral que devem existir no uso do dinheiro público?
Que tal um desfile de políticos safados dentro de uma grade – como as que carregam leões nos circos – em cima de um caminhão, percorrendo toda a cidade? E depois ainda saber que todos os seus bens, que por certo foram adquiridos nas mumunhas politiqueiras, seriam tomados?
Uma lei de talião que privilegiasse humilhações públicas, como paga à própria humilhação pública, em momentos de utilização de tudo o que a nossa constituição reza como dever do Estado. A humilhação da saúde pública. A humilhação da educação pública. A humilhação da segurança pública. A humilhação do mínimo salário público. Das filas do INSS. Do descaso e da tortura porque passa nossa velhice.
E assim ficaria claro que o povo seria merecedor de respeito. Não do respeito falso de campanhas publicitárias de péssimo gosto. Mas o respeito humano que colocasse um fim no paraíso em que vivem os privilegiados de parcos 10 mil ou doze mil votos, que nada fazem por esses mesmos votos, viventes do inferno e do escárnio e do abandono.
Cuidado meus amigos. A violência no Brasil já anda perdendo suas antigas intenções de apropriação indébita. A violência hoje é um imenso aparato bélico e poderoso, cujo comando já não está apenas nas mãos dos criminosos. A violência hoje vem da sensação de que o futuro é vazio, sem esperanças e sem qualquer possibilidade.
Um comentário:
Muito bom o artigo. Bom saber que talião não é uma pessoa. Eu nunca soube disso.
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