INVERSÃO DE VALORES
As vezes eu fico pensando coisas tão absurdas, que é difícil saber de onde vêm e porque me atormentam tanto ao ponto de me incitar a descrevê-las. Acontece que, para o escriba, o texto pronto significa a tarefa terminada, o alívio do refluxo de algo que embrulhou seu estomago, ou aquele xixi gostoso após o encontro de uma bexiga cheia e a visão aliviante de um santo banheiro.
Desta vez, vou ao papel por pensamentos insólitos. Desses que só podem mesmo fazer residência na cabeça de doidos varridos, ou que já andam vendo coisas de tanto sofrer por conta da irresponsabilidade dos poderes no Brasil. Uma estranha esquizofrenia, capaz de colocar chifres e roupas vermelhas em anjos e vestir de branco os piores demônios que o inferno em que vivemos já viu.
Nesse desvario eu começo a inverter valores dando inicio a um processo de repensar o erro e o acerto, a honestidade e a safadeza, o justo e a injustiça. A imaginação divaga, vai longe e me direciona a uma tese totalmente inusitada: será que todos os Brasileiros estão errados e são os poderes Brasileiros os verdadeiros detentores da razão? Será que a reclamação uníssona de um povo inteiro não passa de chororô de gente mal resolvida que só pensa em ficar azucrinando a vida de Presidentes, Governadores, Deputados, Prefeitos e Vereadores? Será?
A resposta não tem muita importância porque o que me interessa é a minha maluquice. Maluquice de pensar em um Ministério Público repleto de homens gordos e ociosos na plenitude do far niente, gozando suas vidas em poltronas confortáveis, ar condicionado, e verbas polpudas para gastar sem prestar satisfação. Uns coçam dedos do pé que descansam sobre mesas caríssimas. Outros conversam com jornalistas apaixonadas que buscam a qualquer custo a proximidade do poder. Outros ainda ficam horas e horas em salas de bate-papo na net ou no MSN pra passar o tempo. Alguns vêem sites eróticos, enquanto parceiros jogam baralho disputando o almoço.
A ociosidade é tanta que de repente um deles, cansado de tanto não fazer nada, se levanta com uma grande idéia: ê cambada ...que tal a gente começar a perturbar a vida de alguns políticos?. A ovação é geral: boaaaaaaa....legal...valeu...eu topo.... A única dúvida é saber quem será perturbado. Isso é rapidamente sanado por alguém que propõe um sorteio. Feito o sorteio é só ligar o guardião (aparelho capaz de gravar conversas telefônicas de 400 pessoas simultaneamente) e pronto. Em breve todo mundo verá mandados de prisão sendo levados pela Polícia Federal e conseqüente prisão de políticos honestos, dignos e de passado irrepreensível. Aparato lindo, com carros pretos pintados de dourado, luzes feéricas parando em portas de mandatários, cercados por fotógrafos, cinegrafistas e outros urubus ávidos pela carniça da podridão, que exala o mau cheiro porcino de estruturas e carcaças apodrecidas.
Pobres Governadores desse Brasil afora! Não se passa um minuto sequer sem que a injustiça lhes teça acusações e impropriedades.
Pobres Deputados de nossas ilustres e comedidas Assembléias desta nação imensa!
Não há um átimo de tempo sem que sites, jornais, revistas, rádios e outras mídias não os foquem pelas lentes da invasão de privacidade e os tirem da tranqüilidade e da luta pela resolução dos problemas de sua gente. Gente humilde que só pensa em trabalhar com dignidade e com as intenções mais honestas.
Pobres Senadores! Em todo o tempo ficam lhes iluminando com holofotes imensos, sem tréguas e sem alívio, mesmo na hora sublime de fazer amor com jornalista nos gabinetes confortáveis de suas lidas diárias.
Pobres funcionários detentores de cartão corporativo! Não se lhes entendem a necessidade humilde de alugar um avião inteiro para sete pessoas por 348.000 reais ou o ato simples de comprar uma simples tapioca por outros 8 reais.
Como é dura a vida dessa gente! E como é cruel essa justiça que os impede de gastar com sossego o dinheiro recolhido em impostos, por escravos do reino da ostentação e da vaidade, que a ignorância costuma chamar de povo. Ninguém os entende. Ninguém acredita em nada do que dizem.
Mesmo que esbravejem suas verdades nos parlatórios dos plenários e outros púlpitos. Mesmo que provem com palavras bem pensadas e geralmente escritas por defensores altamente especializados.
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