Solidão
Quando nasceu apenas percebeu a solidão à sua volta. De uma forma que não sabe como, foi crescendo até que por fim desabrochou sua primeira flor. A cor das pétalas era de um vermelho vibrante, que lindamente balançava ao vento, exalando um perfume exótico próprio das flores que nascem ao leo na natureza. Essa única flor era sustentada por um caule forte que terminava em raízes seguras encravadas na solidez de uma rocha. A rocha parecia ter nascido da terra, crescendo de uma forma bastarda em meio a um ambiente que não lhe cabia. Era um campo pobre de natureza onde aqui e ali se via poucas manifestações de verde. E em meio a essa pobreza toda erguia-se a rocha e sobre ela a única flor a enfeitar viva e linda a penúria de beleza do ambiente.
Estranha essa formatação da natureza!
Um ambiente inóspito, plano a perder de vista e no meio dessa monotonia uma rocha imponente e em cima dela, bem no seu cume, uma flor rubra, soberba, imponente e aparentemente segura.
Apenas aparentemente.
A flor vivia a reclamar da inutilidade da própria existência: “Porque tão bonita se em um raio de quilômetros não existem olhos para admirar minha beleza”? Porque tão cheirosa se ser vivo nenhum jamais virá sentir de perto meus aromas? “
Abaixo dela e circundando aqui e ali a portentosa rocha, touceiras de grama amarelecidas pela intensidade do sol, elogiavam o que viam em meio a um burburinho de vozes e em verdadeiro frisson causado pela beleza.
O escorpião do campo saiu do esconderijo que o protegia do sol e ficou ali horas e horas como que hipnotizado.
A aranha das pradarias esqueceu dos seus hábitos de caçadora e pôs-se a olhar aquele cenário.
Com mais atenção seria possível ver milhares de outros seres vivos formando uma imensa platéia para tão inusitado espetáculo. Todos apaixonados, paralisados e sorvendo cada segundo do que a luz forte da manhã lhes trazia até os olhos.
Mas a flor reclamava: Porque tanta solidão? Porque não nascer em meio a um jardim de um palácio suntuoso? Poderia servir a um príncipe e ser entregue como presente à sua amada. Poderia enfeitar bodas, eventos ou grandiosas festas onde todos admirariam minha delicadeza e formosura.
Acima dela e já pela casa das nove horas matinais estava o sol.
Sem ouvir tais queixas, o astro rei derramava-se em raios carinhosos dando a essa flor os calores e a energia que ela necessitava.
O vento lhe trazia uma brisa fresca durante o dia, e à noite derramava sobre ela gotas de orvalhos que, ao raiar do sol, transformava em diamantes a lhe enfeitar as pétalas.
Vez por outra empurrava uma nuvenzinha carregada de água fazendo chover gotas deliciosas que, além de suavizar o calor, supriam suas necessidades.
A rocha por sua vez se sentia orgulhosa de ter preparado um espaço em concha para que a água da chuva ficasse à disposição de tão bonita rosa.
Tudo em volta dela eram cuidados. Tudo em volta dela eram elogios. Tudo em volta dela era amor e admiração.
Conta-se que a rosa reclamou até que a ultima das suas pétalas caísse em cima da pedra protetora.
Conta-se também que o sol chorou, que as nuvens não vieram mais e o vento, de tanta tristeza, transformou-se em uma imensa calmaria.
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