segunda-feira, 9 de junho de 2008

TODO IDIOTA TEM O ESTADO QUE MERECE.


Outro dia um amigo despejou críticas severas sobre meus pobres ouvidos. Eu sei que amigo é pra essas coisas, mas nesse caso me deu vontade de mandar caçar serviço, ao invés de se preocupar ou perder tempo com um caso perdido como eu. Por ele eu sou um tipo ranzinza, inflexível e que só escrevo pra expor o lado ruim da vida. Do tipo que vive atarantado e angustiado com os dejetos esparramados por seres humanos sujos e porcos e que, pra piorar, se sente com o nariz torturantemente enfiado dentro deles. Um sujeitinho que não vê o lado bom das coisas e que, ao contrário do que imagina a própria vã filosofia, precisa saber que existem mais coisas entre as picuinhas da terra e o céu da vida farta e nababesca.


Eu ouvi calado. Mas não posso negar que tudo o que eu ouvi tenha sido do meu agrado. Críticas me deixam nervoso. Claro que não ao ponto de sair xingando ninguém de vagabundo ou de moleque publicamente, mas me deixam. E nesse caso mais ainda, por se tratar de um pelego safado e que vive mamando nas tetas do poder, pra poder manter uma vida fausta e completamente fora do padrão que o seu incompatível salário permite.


Daí eu fiquei pensando sobre como deve ser boa a vida da insensibilidade. Como deve ser delicioso passar assim pela vida em brancas nuvens. Viver na cegueira, evitando enxergar o óbvio e ululante apelo de toda a sociedade que clama por decência e honestidade, até por questão de sobrevivência. E não é preciso dizer que a desonestidade de poucos é que faz a agrura de milhões e milhões de Brasileiros. Porque essa história de dizer que somos um País pobre e sem recursos é história pra boi dormir, visto que já ocupamos os primeiros lugares nos mais variados segmentos empresariais do mundo. Porque essa conversa de falta de recursos é engodo e tapeação porque a receita fiscal do País surpreende dia após dia. Um elefante imenso e gordo a devorar 40% de tudo o que ganha o trabalhador, que na ponta da renda recebe duzentos e poucos dólares de salário mínimo e na ponta do consumo só pode consumir dois terços do que recebe, porque o resto vai pra pança insaciável desse mamute.


Nem é preciso mais falatório sobre o assunto. Com pouquíssimos argumentos é fácil classificar esse tal “amigo” como um idiota e jogá-lo no balaio de gatos, ou melhor, gatunos, que vivem as bacanais da fartura, olhando jocosamente a miséria que cerca seus palácios. Gente que vive a reclamar da violência a que está submetida enquanto acintosamente circula esbanjando suas fortunas, em meio à maioria absoluta de sem-tetos, sem-comidas, sem-direitos, sem-cidadania, sem-educação e sem nada.


E não interpretem isto como uma postura radical contra a riqueza. É contra a riqueza sim, mas a riqueza desonesta, aquela que subtrai parasitariamente do esforço de todos. Riquezas sujas que fecha os olhos para as conseqüências claras que hoje já dão mostras das suas insanas ações.
E são muitos os idiotas. Idiotas que pensam que podem lesar a saúde pública e permanecer impunes durante toda a vida. Idiotas que negociam votos, abusando de um poder econômico que tira proveito da miséria. Idiotas que vivem a vida pública em negociações e picuinhas sobre nacos mais suculentos do poder. Idiotas que negociam coligações pensando apenas no tempo de televisão a ser dividido na próxima campanha.


Idiotas sim. Idiotas de todos os matizes e que ainda não perceberam que os resultados de suas maquinações já estão visíveis. E em todos os segmentos da vida do Pais. Na iniciativa privada que prepara seus cofres para bancar campanhas políticas em troca de favores futuros. Idiotas que fazem lobby em favor da propaganda das cervejarias na televisão. Idiotas de todas as instituições Nacionais. Idiotas da saúde. Idiotas da educação. Idiotas do Detran. Idiotas, idiotas e mais idiotas.


E a colheita desse plantio chegou. Chegou com cheiro de sangue. Chegou com a força da violência. Chegou com o domínio do crime. Chegou com uma revolta pública jamais vivida por este País. Chegou na pedofilia. Chegou na falta de vergonha que hoje já detecta novos indícios de mensalões. Chegou na safadeza de políticos vendendo até passagens aéreas que recebem gratuitamente dos nossos suados impostos. Chegou na bandalheira generalizada, que não poupa quem quer que seja. Enfim em um caos completo e difícil de ser revertido.


Mas, se de um lado a parvoíce assola todos os quadrantes públicos desta imensa nação, do outro há ainda outra leva de idiotas nascidos para atuar sobre esse processo e que se contentam e ser cordeirinhos passivos dessas ações. Idiotas que votam em qualquer candidato soprado na boca de urna. Idiotas que não se apercebem do mal que estão fazendo a si próprio e a todos os viventes deste País. Idiotas que vendem seus votos e depois vão esmolar atenção em postos de saúde.


Pois que assim seja. Que votem dissimuladamente, sem atenção e sem consciência. Que façam da urna uma brincadeira de domingo. Mas depois não reclamem. Todos vão ter o Estado e o País que merecem.

Um comentário:

Unknown disse...

nossa!gostei muito.parabéns!