sexta-feira, 3 de julho de 2009

A DOR DA GENTE NÃO SAI NO JORNAL


Eu vi e ouvi, com estes olhos que um dia a terra há de comer,- como diria meu pai quanto se manifestava testemunha ocular das minhas traquinagens – a Adriana Vandoni, em recente entrevista a um canal de televisão, espalhar aos quatro ventos que não é jornalista coisa nenhuma e que nunca fez questão de ser.

Que barbaridade! Que mentira cabeluda!

Para com isso ô! Ta pensando que nóis é bêsta? É jornalista sim, óxente! Porque age como jornalista. Porque fornece aos consumidores da informação um produto chamado notícia. Porque tem postura de jornalista. E, por mais estranho que possa parecer, a Adriana escreve. E escreve bem. Com textos que por vezes parecem as bocas arreganhadas dos cães ferozes, na guarda dos que tentam pular o muro da decência e da compostura. E com uma simpatia indescritível. Com palavras que você só encontra nas bocas das boas fofoqueiras. E o que são jornalistas se não fofoqueiros e bisbilhoteiros autorizados?

E, pra mim, quem age como jornalista, fornece informações, tem postura de jornalista e escreve, é jornalista e pronto acabou-se. E fim de papo.

E eu disse isso tudo e fiz essa prosopopéia toda, pra mostrar minha indignação com o que ando lendo por aí e talvez até tentar borrifar no ar algum perfume, nesse cheiro de mausoléu de múmia, que hoje invade as páginas dos jornais e os sites ditos de informação.

E é agora que entra a pergunta que não quer calar – eu odeio essa frase, mas nem sempre a gente faz apenas o que a gente gosta. O que é que fizeram da noticia? Que caca é essa que a gente é obrigado a engolir quando procura detalhes e encontra o básico? Que josta!

Tá quase tudo lá, e quase tudo é muito parecido com quase nada. Só depende do nível do leitor. Idiotas adoram o quase nada oferecido pela noticia moderna. Noticias frias e urgentes, que economizam a única coisa que o bom leitor tem, e que é o tempo de leitura. Parecem a aula básica sobre o corpo humano, que eu recebi da professora Aparecida, na antiga Escola Modelo Barão de Melgaço: cabeça, tronco e membros.

E cadê os nervos? E cadê os músculos das opiniões que dão flexibilidade e força aos acontecimentos? Noticias hoje não respiram mais. Nascem cadavéricas, mortas, frias e sem movimento. Eu não quero saber se o Maicol Jeca morreu. Eu quero é conhecer profundamente o sofrimento dele. Quero entender o lado humano do seu padecimento. Quero receber lições. Quero aprender. Quero me situar com os erros e acertos alheios.

Quero opiniões. Quero todos os adjetivos a que tenho direito. Não importa se falem bem do Sarney ou que elogiem o Lula. Eu quero é tudo explicadinho, nos míiiiiinimos detalhes. Eu adorava o Carlos Lacerda, mesmo odiando sua postura reaça. Sempre gostei do Nelson Rodrigues mesmo o sabendo partidário da imunda revolução de 64.

Eu preciso dos dois lados. O lado que é contra os meus princípios, me desafia e faz com que eu exploda os meus mais sonoros “filho da puta” ou “ vai tomar no olho do seu c.” Mas é vivo. Tem cheiro de gente. Tem cérebro.

A Adriana é jornalista sim. E agora a última explicação sobre o “estranho” dito acima. Ela é economista. Devia ser fria como os economistas. Mas não é. E se for para me repassar essas coisas insípidas, que os jornalistas diplomados ficam quatro anos esquentando a bunda nas universidades, eu passo. Ponham-se todos daqui pra fora. Eu odeio essa informação pasteurizada e igual.

E termino com uma frase de um grande guru, que sempre fez parte dos meus desejos por emoções disparatadas e explícitas : “...a dor da gente não sai no jornal”.

Chico Buarque também é jornalista. E dos melhores.

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