quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

RICARDÃO

Eu era muito novinho quando um Ricardão apareceu na minha vida. E apareceu sem mais nem menos, devidamente apresentado por um amigo da onça, em um dos butecos desta vida.

De cara eu senti que algo não estava funcionando bem no equipamento chamado Odete, que sempre obedecia fielmente aos meus comandos. Um avião de carne e osso cumpridora e seguidora, sem discussões, das minhas ordens.

Odete tinha comandos suaves. Um objeto sexual de altíssima tecnologia, submisso e programado para ouvir os decretos vocais que eu dava, e se submeter de imediato a todos eles.

Bastava um simples “vamos pra casa” e pronto. A festa acabava na hora. O equipamento se recompunha, pegava sua bolsa, despedia dos amigos e já ia se levantando da mesa, sem antes me dar um beijinho no rosto, para exibir a posse do comandante pra todas as suas amigas.

Da minha parte eram só as ordens. Algumas bem de manhãzinha em forma de pergunta: já fez o café? A resposta era doce: já sim amor, ta na mesa. Aí meu “desejo” ainda se deitava do meu lado e começava um “esfrega- esfrega” matutino, para aproveitar o conhecido tesão do mijo.

Não me lembro das desnecessidades de palavras amorosas ditas pela minha boca. Nem precisava. Eu sempre pensei que aquela “ coisa” composta de dois seios, duas bundas e um buraquinho molhado estivesse totalmente apaixonada. E mulheres apaixonadas adoram homens duros que as tratem de forma rígida e máscula.

Tudo isso até o aparecimento do Ricardão.

Nosso primeiro encontro no Chalé das Torres - a muvuca da moda por estas bandas - o chaleirismo e a babaovagem foram insurportáveis. Eramos eu, Odete, o Pedro- o tal do amigo da onça – e ele.

O cabra era estranho. Elogios não faltavam. Fincava pedaços do filé com queijo e repassava pra ela. Querida e amor, eram palavras que saiam a todo momento da boca do fidequenga.

Imaginem que, em certo momento, o sujeito esquisito chegou a limpar um pedacinho de queijo que caiu na roupa da moça e, antes de fazê-lo, ainda pediu licença.

Servia a bebida pra ela. Estava sempre sorrindo. Tinha assunto pra não parar mais. Dava conselhos. Ouvia cheio de atenções. Vixe. Foi um inferno.

Pela primeira vez Odete se recusou a ir embora. Delicadamente me disse: “...ah nãooo...ta tão gostoso...vamos ficar mais um pouquinho tá?

Eu quase desmoronei. O manche do avião parecia ter fugido do meu controle.

Daí em diante o desastre foi inevitável. Os motores do relacionamento pareciam em pane. Os profundores viravam ao contrário. Nem o trem de pouso quis baixar direito.

Meu avião passou a não querer voar comigo. Estranhamente arranjou indisposições, viroses e dores de cabeça. Até que, finalmente, terminamos.

O novo piloto era o Ricardão. Noticias posteriores davam conta de que ele usara minha máquina apenas por uns quinze dias. Depois ele a abandonou em alguma pista sem homologação neste grande aeroporto que é a vida.

Daí foi que eu descobri coisas interessantíssimas. Odete era uma mulher. Tinha um corpo lindo e a alma mais bonita deste mundo.

Mas a bestagem não ficou só nisso. Cometi outro erro. Ela implorou meu perdão, e o machismo que por esse tempo me atormentava, não perdoou definitivamente.

E assim ficamos os três. Ele com a felicidade de ter ido aos céus com Odete. Ela com a sensação de ter conhecido um verdadeiro gentleman. Eu, com a lição mais dolorosa que alguém pode receber e pagando com um sofrimento que durou ainda uns dois anos.

A partir daí tive a certeza que, dada à sofisticação do contexto feminino, todo homem antes de namorar devia fazer um curso.


Eu estava perdidamente apaixonado.

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